domingo, 14 de março de 2010

O Fugitivo


Hoje, ao acordar, logo percebi que não era um dia normal. Mesmo antes de me levantar, notei que estava livre de minha corrente, e que a grade que estava sempre trancada, hoje não estava. Teria alguém se sensibilizado com minha situação?

Saí de mansinho, pé por pé, e ganhei a rua! Todas aquelas árvores, aqueles postes, os hidrantes! Ah! Que saudades da rua!

Mas, por um segundo hesitei. Pensei se estaria agindo corretamente. As crianças com toda a certeza sentiriam minha falta, pois, gostavam muito que eu as carregasse em minhas costas. E a patroa? Ah, a patroa! Como é bom o seu afago!

Mas, só a lembrança das surras do patrão pulverizaram minhas dúvidas, virei a esquina e corri! Como a muito não corria!

Logo estava longe, mas não me sentia bem, as pessoas me olhavam, tinham reações estranhas ao me ver . Algumas atravessavam a rua, outras me chamavam e sorriam para mim.

Andei por toda parte, fui enxotado de lojas e padarias, nem na igreja me deixaram entrar. Quando tive fome, a lixeira de um restaurante foi meu refúgio, e confesso que não foi nada mal, comparado com as sobras que eu recebo naquela casa.

Já a tardinha, vi algo que me paralisou. Uma gata, ali parada, parecia hipnotizada a observar o bailar dos pombos e pardais no chão da praça. Fiquei maluco! Meu primeiro impulso foi correr atrás dela!

Antes que eu a alcançasse, ouvi uma voz familiar, chamando-me pelo nome. Era o patrão, com minha coleira na mão.

Fui arrastado de volta para casa, levei uma surra daquelas.

É, para um cachorro, até que meu dia foi dos bons. Um verdadeiro dia de cão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário