domingo, 6 de maio de 2012

Doente


            E como todo homem adulto, nunca ia ao médico, nem quando sabia que estava mal, remediava-me, encolhia-me, resolvia-me assim.
            Mas dessa vez era pior, por que eu não sabia do que estava sofrendo, não entendia aquela dor, nem de onde ela vinha. Portanto não podia cuidar-me sozinho. Até para minha mãe havia ligado, com o intuito de conseguir conselhos, mas, como de praxe, disse que o problema era com um amigo, para não preocupar a velha.
            Dias se passaram, e nada de melhoras.
            Não havia mais jeito. Fui ao médico.

            - Bom dia doutor!
            - Comigo tudo muito bem, já o senhor parece meio mal... do que acha que sofre?
            - Ahh doutor, não sei bem ainda, mas acho que é agonia...
            - Humm, fale mais...
            - Até semana passada, achava que fossem ciúmes, ou insegurança agora acho que é algum tipo de carência crônica...
            - Onde dói?
            - Às vezes a noite, dói o peito, e sinto os pés gelados.
            - A quanto tempo sente esses sintomas?
            - Não sei, mas acho que desde que ela foi embora.
            - Alguma namorada?
            - Não, minha gata, fugiu com um pato.
            - Humm... tomou algo por conta própria?
            - Ahh, só tomei coragem de vir aqui, foi difícil de engolir inclusive...
            - Olha, a priori, seu diagnóstico é complexo... aparentemente você sofre de culpa, medo e cefaléia genital.
            - Vou morrer doutor?
            - Não em breve, um dia com certeza.
            - Quais suas prescrições?
            - Vergonha na cara e um pouco de sol, beba também uma cerveja com os amigos a cada sete dias, e pague a conta quando puder, isso acelera a recuperação.
             - Só isso? Não vai me receitar algo mais forte?
       - A princípio não, caso não hajam resultados satisfatórios partiremos para um tratamento mais intenso...
            - E qual seria doutor?
            - Uma namorada...
            - Nossa! Tão intenso assim doutor?
            - Sim, mas isso será em caso extremo, não se preocupe.
            - Obrigado doutor, começo o tratamento agora mesmo!
        - Até mais, e mais umas dicas: corte esse cabelo e faça a barba, ajuda na auto-estima, entre também em uma academia, grupo de dança flamenca ou aula de saxofone.
            - Farei isso! Até mais! Até já me sinto melhor doutor!
           
           E hoje? Ainda não estou curado, mas não largo mais o tratamento! E ando pensando seriamente em agravar minha doença só para partir para a fase dois...



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