sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Corda

Eu já tinha me recuperado, a ferida não sangrava mais quando me vi lá em cima, e na verdade isso era irrelevante, pois eu não precisei de muito esforço para chegar até lá, fui carregado e posto até contra minha vontade.
Certo é que a visão do alto impressiona, dá um frio na barriga, um mixto de hesitação e excitação.
De fato o que por vezes vencia era a excitação, e eu pulava do parapeito em queda livre, a sensação era ótima, como se eu pudesse voar, e estranhamente eu nunca chegava ao chão, as mesmas mãos que me puseram no alto, me levantavam novamente.
E assim se passaram meses. De salto em salto, elevação em elevação. Porém a adrenalina já não era mais a mesma, nem o frio na barriga existia mais. Só então percebi o quanto eu estava sozinho.
Mais alguns saltos, só para abrandar o tédio... até que um dia ouvi uma voz, parecia vir de perto, muito, muito perto. Essa voz só me perguntava: “o que você quer?”.
Mais alguns meses, os saltos rarearam, não me agradavam mais, e essa voz constante já estava me deixando louco.
“O que você quer?”
“O que você quer?”
Até que eu percebi... só precisava de corda.

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