Não existe nem “meio
errado” nem “menos errado”. Já discuti com amigos por isso. Discussão feia
mesmo, daquelas de mesa de bar, que depois de dez minutos já foi esquecida. Mas
explico o que estou querendo dizer.
Matar alguém, ou desejar
a mulher do próximo, ambas são ações erradas de acordo com as nossas normas de
bem viver em sociedade, certo?(dizem que estava escrito em umas tabuinhas
antigas). A diferença entre elas é a consequência que isso traria ao indivíduo
que comete tal erro. Assim como beber refrigerante ou cheirar cocaína, para a
saúde, ambas as ações são danosas, mas uma em maior quantidade do que a outra. Dito
isso, reafirmo o que muitas pessoas não entendem, ou não concordam, não existe “meio
errado”, ou “menos errado”, existem sim conseqüências diferentes para erros
diferentes. Consequências maiores ou menores.
Porém, quando
afirma-se o contrário, logicamente subentende-se que, se algo é “meio errado”,
também é “meio certo”, e assim de certa forma legitima-se um erro, por sua
porcentagem “certa”. (“sei que é meio errado, mas vou desviar essa verba...”)
Normalmente vejo
esse raciocínio do “meio errado” embasando ou camuflando ações que as pessoas cometem,
sabendo que estão erradas, e simplesmente não admitem. Ou a do “menos errado”
para minimizar a aparência em comparação a um suposto “mais errado”(“eu podia tá
roubando... mas to aqui comprando voto”).
Nada de polêmico, só
acho prático admitir isso, fazemos coisas erradas. E elas tem conseqüências
diferenciadas, essas sim são quantitativas e dimensionam o
tamanho da cagada que você fez, ou está pensando em fazer.
Invertendo asseveradamente o foco, não poderíamos dizer que não existe "certo" e "errado" em plenitude?
ResponderExcluirValores são construções culturais, produto de processos, de mudanças, de experiências, da história. Assim como todas as demais estruturas, inclusive as mentais (em questão). Então entramos na discussão da "ética".
Até que ponto, em nosso mundo globalizado, onde as fronteiras nacionais, culturais, então também éticas, são superadas pela pseudo integração advinda com a tecnologia, podemos julgar todas as ações e pessoas pelos mesmos conceitos?
Acho isso tudo subjetivo demais... fechado demais. Medieval (no sentido pejorativo do termo, obviamente)! O que acontece, porém, é que se aceitamos as propostas de "transmutação de todos os valores" de que Nietzsce falava, ou derrubarmos nossas bases de valor por taxarmo-las de "antiquadas", destruímos toda nossa organização social. Então as mesmas fronteiras que limitavam as culturas e sociedades, deixam de por limites à vida em sociedade: relacionamentos perdem o sentido, porque "desejar a mulher do próximo" não é mais uma norma valorativa; a segurança passa existir cada vez menos, retirando o "não matarás" - usando seus exemplos.
Então prefiro nem ser "careta" nem "moderninho" (estereótipos que creio que sejam compreendidos sem preconceitos), mas não recrudescer.
Fico pelo raciocinio do Roger, de que não existe certo e errado. Se não podemos, como vc disse, definir o que é certo e errado por suas consequências, resta utilizar a convenção social. Mas, como humanos e, principalmente, brasileiros, temos um dom impressionante de converter as regras sociais para algo que nos convenha. Isso significa que criamos nossas próprias regras de comportamento e as justificamos pelas "brechas" que encontramos nas leis de bom comportamento. Ou seja, certo e errado sou eu que decido. Mas, como nao posso fugir às consequencias de meus atos, preciso admitir que estou errando, mesmo agindo de acordo com as minhas regras, quando prejudicar outra pessoa. É aí que entra a confusão, pois acabamos medindo o quão certo agi (ou o tamanho da burrada) através das consequências, e não do conceito de certo e errado. Mesmo por quê, todas as tentativas de consolidar esse conceito de que tenho conhecimento terminaram em revolução.
ResponderExcluirContigo foi uma das discussões de boteco... kkkk
ExcluirExatamente, Emmanuelle: o que é certe é definido pela ética, que é coletiva, mas que não é apenas a soma das "morais" particulares. Essa "convenção social" de que você fala é a ética em si mesma. Que é também uma construção cultural - o que não reduz sua fundamental importância.
ResponderExcluirUm vídeo então pra ajudar na reflexão proposta pelo Fabiano:
http://www.youtube.com/watch?v=L_V0Y0lFJUs
Muito legal essa discussão ter sido elevada exponencialmente a uma questão de ética, sobre o que é "certo ou errado", não quis ser tão profundo quando escrevi o texto, mas se vocês gostam de meter os "pés na lama" filosófica, ótimo! :)
ResponderExcluirMas, mesmo concordando que é difícil sabermos o que é o certo e o errado, quando sabemos o que é certo, e existem momentos em que não é necessário mais do que o senso comum para afirmar isso, existe o "meio erro"?
Em alguns momentos da história, como na sociedade feudal do medievo, por exemplo, ter uma moral que destoasse da ética coletiva era estritamente proibido e punido. Hoje, não tendo os mesmos mecanismos na sociedade, temos mais liberdade pra fugir dessas imposições que são feitas à massa, sejam diretas, indiretas, oficiais ou (culturalmente) subentendidas. mas Esse senso comum é a "ética" de que falamos, cara.
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